Cadernos Junguianos – n° 11 – 2015

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Sumário

Editorial
 5

Artigos

Uma vastidão sem limites: reflexões de Jung sobre morte e vida

Sonu Shamdasani
 7

O Norte das águas em grega face: o Boto frente a Hermes

Gilzete Passos Magalhães
 26

Odisseia – último desafio de Ulisses

Aurea Roitman
 41

A única coisa certa é a incerteza: notas sobre o trabalho com sonhos na análise junguiana

Henrique de Carvalho Pereira
 48

A dança como expressão do Self

Paulo José Baeta Pereira
 63

Por que os deuses castigam? Apolo castigado

Bráulio Porto
 75

A Busca e o Encontro e o Encontro e a Busca: Individuações

João Bezinelli / Marilena Dreyfuss
 88

Integralidade mente-corpo na clínica das psicoses

Lygia Aride Fuentes
 96

Memória

Dez anos de ideias, encontros e realizações

Angela Nacacio / Silvia Graubart
 114

Artigos

A alma da cidade de Pelotas e as metáforas alquímicas

Rose Mary Kerr de Barros
 117

Individuação em disparada

Inês Praxedes Longhi
 129

Herói e sombra no conto de um homem ridículo

Maximiliano Z. Silva
 140

Terceiro Setor: um símbolo emergente

Paola Vieitas Vergueiro
 155

O humano diante da diversidade enigmática do seu ser

Soraya Cristina Dias Ferreira
 172

Histórias e memória

Dez anos de ideias, encontros e realizações

Angela Nacacio / Silvia Graubart
 179

Depoimento

Instituto C. G. Jung de Minas Gerais, uma jornada

Jussara Maria de Fátima César e Melo
 182

Resenhas

O cinema e a projeção da psique

Humbertho Oliveira
 184

Relatos Selvagens

Joyce Werres
 186

O Sal da Terra

Humbertho Oliveira / Lis Chagas
 189

Coraline

José Jorge de Morais Zacharias
 191

Orientações aos autores para publicação

 194

 

Uma vastidão sem limites: reflexões de Jung sobre morte e vida

Sinopse: Este artigo é uma transcrição da palestra proferida na Jungian Psychoanalytic Association de Nova Iorque, em homenagem a Philip Zabriskie, no dia 2 de novembro de 2007. “Vastidão sem limites” é a expressão usada por Jung para caracterizar o estado pós-morte em Arquétipos do inconsciente coletivo (OC 9/1: 45). O autor aborda, a partir de reflexões de Jung sobre a relação entre vida e morte, a investigação de fenômenos psíquicos pré e pós-morte, a imortalidade da alma, o trabalho analítico como uma preparação para a separação corpo-alma: enfim, a análise como uma atualização moderna da ars moriendi.

O Norte das águas em grega face: o Boto frente a Hermes

Sinopse: Este texto foi extraído da dissertação “Os espelhos dos rios: dimensões simbólicas da relação de gênero na lenda O Boto” e contou com o financiamento da Capes – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, de 2012 a 2013. A psicologia analítica considera que aspectos psíquicos se expressam por meio de mitos, folclore e artes, favorecendo, na busca da compreensão desses fenômenos, diálogos com diversas áreas do conhecimento. Este texto se propõe a identificar aspectos do masculino, por meio de semelhanças entre o personagem do folclore amazônico o Boto e a divindade olímpica Hermes, sob o ponto de vista simbólico. Para a realização deste estudo, primeiramente, foram selecionadas narrativas sobre o Boto compiladas por estudiosos da história, antropologia e do folclore, bem como em expressões artísticas, na música e no cinema. Em outra etapa deste trabalho, a autora buscou identificar características comuns do masculino entre o encantado da Amazônia e o deus grego Hermes. O material eleito foi submetido ao processamento simbólico arquetípico (Penna, 2009), que propõe a compreensão do significado do símbolo. Os resultados alcançados indicam aspectos do masculino semelhantes entre o Boto e Hermes, corroborando para a ideia do mito e lenda como representação dos arquétipos do inconsciente coletivo.

Odisseia – último desafio de Ulisses

Sinopse: Ulisses em sua longa e árdua trajetória, enfrenta todos os tipos de desafios e perigos com o propósito de resgatar a bela Helena de Tróia. Batalha feroz que lhe rouba vários anos de vida pessoal. O herói obstinado pela conquista coloca-se em estado de hibrys, desafiando os deuses. Quando a guerra acaba e, finalmente, ele retorna para a sua amada, a paciente Penélope, resta-lhe percorrer o seu maior desafio: resgatar a si mesmo, travando uma grande batalha interna.

A única coisa certa é a incerteza: notas sobre o trabalho com sonhos na análise junguiana

Sinopse: Este artigo discute as ideias de C. G. Jung acerca dos sonhos, retomando duas questões fundamentais para o psicólogo analítico: qual a função dos sonhos na vida psíquica e como manejá-los na prática clínica? Em relação à primeira questão, Jung sugere que os sonhos são fenômenos psíquicos do inconsciente situados entre natureza e cultura, análogos a um animal com antenas ou a poemas privados, podendo também ser comparados a um drama interior. Seu exame cuidadoso ajuda a desfazer os hábitos cristalizados da consciência do eu, fertilizando a imaginação humana. Em relação à segunda questão, o artigo ventila a regra metodológica de ficar com a imagem e a técnica da amplificação. Para enriquecer a discussão, buscou-se aproximar determinadas concepções da teoria do ator-rede, do pensador francês Bruno Latour, das ideias de Jung sobre o fenômeno onírico. Nesse sentido, o sonho e seu trabalho são repensados como uma rede de atores. O artigo finaliza com uma vinheta clínica, a título de ilustração.

A dança como expressão do Self

Sinopse: A linguagem do corpo brota a partir de imagens internas e nutre-se delas, e a percepção e expressão dessas imagens são indispensáveis para o nosso desenvolvimento como indivíduo. Meu objetivo aqui será explorar as características destas duas áreas de expressão e pesquisa – o movimento e a linguagem imagética. Focalizarei, por um lado, a criatividade e expressão espontânea da dança através da improvisação e, por outro, minhas reflexões sobre a música e as artes visuais relacionadas à dança. Em continuidade, segui uma urgência interna de compreender e aprofundar a visão de C. G. Jung, que foi onde mais encontrei com um olhar ocidental a compreensão humana integral da nossa psique. A intenção final deste trabalho é, então, acompanhar mais de perto e mais fundo este rio subterrâneo do processo criador, refletir e buscar elucidações da dinâmica intrinseca da dança como expressão artística e a função que cumpre a linguagem imagética do inconsciente e nos empurra incessantemente ao processo de individuação.

Por que os deuses castigam? Apolo castigado

Sinopse: A abordagem psicológica da mitologia grega é uma tarefa que implica um método eminentemente imaginativo, por ser o entendimento das imagens seu foco principal. A psicologia arquetípica parece ser a ferramenta mais interessante de apreensão desse imaginal, em especial pela sua compreensão da organização analógica das fantasias, base primária do mito. Ao procurar “ficar com a imagem”, essa visão pressupõe que sejam abandonadas as leituras que literalizam, moralizam ou corrigem o mito, substituindo o uso do símbolo pelo da metáfora. Tendo isso como base, buscou-se neste artigo refletir sobre o tema dos castigos no mito do deus Apolo. Esse exame se mostrou adequado na compreensão precisa de suas imagens arquetípicas, no que diz respeito à psicopatologia específica e à semelhança que une essas imagens. Conclui-se que o tema dos castigos não se refere somente à punição, mas principalmente à elaboração de outras relações da consciência. Esta nova perspectiva aponta para um processo de individuação via logos, tendo como sustentação as idéias psicológicas, apartadas do poder, mas ligadas à sensibilidade artística e estética.

A Busca e o Encontro e o Encontro e a Busca: Individuações

Sinopse: Buscamos traçar aqui um paralelo entre duas formas do exercício da religiosidade, denominados pelo teólogo Leonardo Boff como O Caminho do Seguimento e O Caminho do Místico, e duas formas possíveis de se observar, em termos da psicologia junguiana clássica, o processo de individuação. No primeiro, mostramos como o arquétipo, uma vez mobilizado, encontra na religião institucionalizada um trajeto já demarcado, dogmatizado, que tornará, em termos egoicos, mais segura sua manifestação. Já quanto ao místico, a manifestação arquetípica irrompe abruptamente no ego, que se verá forçado a uma atuação no mundo, como forma de fortalecimento para não ser submetido ao fascínio do inconsciente. Esse processo é aqui exemplificado na figura do místico medieval Jacob Boehme.

Integralidade mente-corpo na clínica das psicoses

Sinopse: Esse trabalho origina-se da experiência nas oficinas de expressão corporal oferecido aos usuários de saúde mental em regime de acompanhamento/dia da Casa das Palmeiras no Rio de Janeiro. A experiência clínica com trabalho corporal faz dialogar a psicologia analítica de C.G.Jung com as técnicas corporais: vegetoterapia de Wilhelm Reich e experiências sensoriais advindas das artes plásticas, através da adaptação do trabalho de Lygia Clark e seus ‘objetos relacionais’. Estes autores buscam compreender o indivíduo em sua integralidade mente-corpo e questionam o dualismo metafísico (matéria e espírito, corpo e alma) que configurou a mentalidade ocidental.

A alma da cidade de Pelotas e as metáforas alquímicas

Sinopse: Contexto. Nosso recorte enfoca a psicologia do sal e do enxofre, presentes na história de Pelotas na forma da indústria do charque e dos tradicionais doces pelotenses. Objetivo. Através do simbolismo do sal e do enxofre, presentes na história da cidade, buscamos relacionar estas substâncias com os aspectos peculiares da alma pelotense. Metodologia. Utilizando-nos dos materiais disponíveis na literatura, buscamos encontrar as bases do pensamento junguiano capazes de explicar alguns comportamentos coletivos na cidade de Pelotas. Seguindo Jung, podemos fazer uma analogia do processo psíquico de um indivíduo com os da alquimia, e também utilizar a linguagem da alquimia para descrever alguns aspectos da alma da cidade. Considerações finais. A compulsividade do doce, representada pelo enxofre, parece remeter a alma de Pelotas para a necessidade de dosar o sal que, permanecendo em excesso, fixa e imobiliza, falando do conservadorismo de Pelotas. Sal, enxofre, mercúrio são substâncias arquetípicas e o processo de individuação, como realização plena, exige uma série de operações que devem ser realizadas sobre este substrato básico e que levarão a uma transformação singular harmônica na alma humana.

Individuação em Disparada

Sinopse: Através de um passeio pela letra da música Disparada, de Geraldo Vandré e Theo de Barros, a autora faz a constatação do relato agreste de um processo vivo de individuação. É possível observar, em cada etapa da história cantada, dinâmicas de transformação em diferentes fases da vida descritas por Carl Gustav Jung e autores junguianos, como Edward C. Whitmont e Marie-Louise Von Franz, que permitem reflexões sobre encaminhamentos positivos de conflitos e emergências em que o ego se porta, nas tomadas de decisões, como colaborador da individuação.

Herói e sombra no conto de um homem ridículo

Sinopse: Este artigo foi desenvolvido com base na análise do conto O Sonho de um Homem Ridículo, de Fiódor Dostoiévski, enquadrando-o no esquema da jornada arquetípica do herói do teórico Joseph Campbell, o qual designou um esquema teórico para estruturar histórias protagonizadas pelo arquétipo supracitado. Procurou-se interpretar o conteúdo da obra em seu caráter simbólico, relacionando os resultados obtidos com o desenvolvimento egoico do protagonista dentro da perspectiva de um processo de individuação. Esta pesquisa tem uma abordagem bibliográfica, utilizando o escopo conceitual junguiano. O procedimento metodológico utilizado baseou-se na análise de conteúdo considerando os moldes de uma crítica literária junguiana. Foi possível elucidar vários elementos simbólicos do mito de herói e considerar que uma fase inicial do processo de individuação surge no desenvolvimento psicológico do personagem, bem como obter um enquadre na temática da jornada do herói discutindo os resultados provenientes de tal sistematização, percebendo uma variante do arquétipo do herói. O conto apresenta um entendimento que indica que por vezes é preciso que se vivam intensamente os conflitos e se atribua um sentido na angústia e depressão.

Terceiro Setor: um símbolo emergente

Sinopse: Este artigo observa o Terceiro Setor como um símbolo da atualidade. Para realizá-lo, começa apresentando uma visão da história do Terceiro Setor. Explora as bases teóricas da psicologia analítica sobre as quais baseia sua leitura. Com isto, afirma os recursos que a psicologia analítica dispõe para investigar a disposição psíquica que acompanha eventos políticos, econômicos e sociais. Realiza uma pesquisa sobre o símbolo do três e da Trindade e, a partir desta, lança hipóteses de compreensão dos possíveis sentidos apontados pelo Terceiro Setor na atualidade.

O humano diante da diversidade enigmática do seu ser

Sinopse: Desde o surgimento da humanidade, a questão sobre a natureza do ser humano está posta de forma desafiadora ao logos. A filosofia antiga declara que através do conhece a ti mesmo se pode chegar ao âmago do que somos. A partir deste lugar, mas de forma diferenciada, surgem nos tempos modernos novas ciências e estas continuam o árduo exercício de tentar decifrar o enigma do que nos constitui como seres existencialmente relacionais. Percorrendo sem preconceitos a diversidade destes antigos e novos saberes, a psicologia profunda de Jung propõe suas leituras sobre o dinamismo psíquico, apontando, como estrela-guia para chegarmos ao que realmente somos, o processo de individuação. Este artigo apresenta, então, pequenos enfoques de um percurso que culminou na construção de um determinado olhar sobre a diversidade enigmática do humano.


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