Cadernos Junguianos nº 14 – 2018
Sumário
Editorial 5
Nossa capa 7
Artigos
Hesitar e ir devagar: portais de entrada para a profundidade da psique
Stanton Marlan 9
Arte e psicologia analítica: relações criativas
Departamento de arte e psicologia analítica 20
Perspectiva alquímico-simbólica: um paradigma da psicologia analítica
Departamento de epistemologia e pesquisa 34
Oficina de literatura e psicologia analítica: uma experiência poética com Manoel de Barros
Departamento de psicologia analítica e literatura 50
A psicologia arquetípica na AJB: a alma na cidade
Departamento de psicologia arquetípica 62
Utilização do Lego como recurso terapêutico: reparação, conexão e estruturação da personalidade
Departamento de psicoterapia infantil e adolescente 72
Espiritualidade e psicologia analítica no cenário atual
Departamento de psicologia analítica e espiritualidade 84
Revendo a experiência da relação psique-corpo: o corpo simbólico Departamento de psique, corpo e psicologia analítica 95
Complexo cultural, consciência e alma brasileira
Departamento de psicologia analítica e alma brasileira 114
Mudanças nas relações afetivas atuais e a importância da individuação relacionada
Departamento de psicologia analítica e família 126
Imaginação ativa: o fator eficaz na prática da psicoterapia
Departamento de psicologia analítica e imaginação ativa 137
Orientações aos autores para publicação 155
Hesitar e ir devagar: portais de entrada para a profundidade da psique1 – Stanton Marlan
Sinopse:Este artigo tem como foco a hesitação e a lentidão no trabalho da análise junguiana. Ele enfatiza a importância da paciência como um modo de alcançar a profundidade e evitar formulações fáceis e abstratas que faltem ao respeito com a verdadeira alteridade do analisando e com os enigmas fundamentais do trabalho analítico. Alinhando-se às técnicas de Freud e Jung e buscando nas tradições da alquimia, da Renascença e da sabedoria oriental, o autor articula uma complexa noção de hesitação. O artigo desconstrói conjunções binárias simplistas como rápido e devagar, e sugere a atitude de vagar sem objetivo como uma compensação importante às atitudes excessivamente tecnológicas e à cultura acelerada que invadiram nossos consultórios e sensibilidades terapêuticas.
Palavras-chave: análise junguiana, técnica analítica, alquimia, hesitação, lentidão, desconstrução, enigma da alteridade, festina lente, wei wu wei.
Arte e psicologia analítica: relações criativas
Departamento de arte e psicologia analítica da AJB – Irene Gaeta* et al.1
Sinopse:O artigo tem por objetivo refletir sobre a arte em sua interface com a psicologia analítica. Analisa a utilização da atividade artística como um recurso para ampliação de consciência e busca as bases teóricas para uma compreensão simbólica das relações e manifestações do ser humano no mundo. Apresentamos os recursos expressivos que utilizam o fazer artístico para acessar e mobilizar a função transcendente, O Livro Vermelho e sua importância no contexto atual, a visão junguiana da relação entre arte e loucura – destacando a contribuição do trabalho de Nise da Silveira e, por fim, a teoria da complexidade em suas relações com a psicologia analítica e a arte. Todos esses temas foram pauta de discussões realizadas no Departamento de arte e psicologia analítica da AJB e do NAPA (Núcleo de estudos de arte e psicologia analítica) do IJUSP.
Palavras-chave: arte, psicologia analítica, recursos expressivos, criatividade.
Perspectiva alquímico-simbólica: um paradigma da psicologia analítica
Departamento de epistemologia e pesquisa da AJB – Maria de Lourdes Bairão Sanchez* et al.1
Sinopse: O objetivo deste estudo é relacionar o processo alquímico e simbólico como eixo paradigmático da psicologia analítica em suas bases epistemológicas. A psicologia analítica é uma ciência mediadora que se propõe a abranger, em sua compreensão, sujeito e objeto; assim, ela inaugura um modo específico de trabalhar a psique por meio da experiência simbólica. A obra marcante da especificidade do pensamento junguiano, Símbolos da transformação, propõe um novo paradigma científico que permite o diálogo com físicos e epistemólogos que contribuíram para a diferenciação entre o paradigma moderno e o pós-moderno, bem como com pós-junguianos que concorreram para a construção da ciência da alma: Von Franz, Hillman, Sonu Shamdasani, John Beebe e Stein, entre outros. O artigo focaliza destacadamente o simbolismo alquímico como método de investigação dirigido para o campo interativo e intermediário entre matéria e psique, campo em que o alquimista acredita que as relações, elas mesmas, podem ser transformadas, assim como analista e paciente são transformados no processo de análise.
Palavras-chave: epistemologia, paradigma, alquímico, simbólico.
Oficina de literatura e psicologia analítica: uma experiência poética com Manoel de Barros
Departamento de psicologia analítica e literatura da AJB – Roque Tadeu Gui*
Rubens Bragarnich**
Sinopse: Este artigo relata a experiência de oficina do Departamento de psicologia analítica e literatura da Associação Junguiana do Brasil (AJB) sobre o tema Fronteiras, ocorrida durante o XXIV Congresso Nacional da AJB (2017), em Foz do Iguaçu (PR).
Palavras-chave: oficina de literatura, literatura, psicologia analítica, departamento de literatura e psicologia analítica, brasilidade.
A psicologia arquetípica na AJB: a alma na cidade
Departamento de psicologia arquetípica da AJB –Gustavo Barcellos*
Sinopse: O artigo aborda a criação do Departamento de psicologia arquetípica na AJB e relata suas propostas e atividades desde a fundação em 2017. A proposta de organizar os trabalhos anuais por meio de eixos temáticos colocou cidade e alma como um primeiro desafio. O artigo contextualiza e situa a originalidade e as questões pertinentes a esse tema na obra de James Hillman.
Palavras-chave: alma, cidade, James Hillman, psicologia arquetípica, urbanismo.
Utilização do Lego como recurso terapêutico: reparação, conexão e estruturação da personalidade
Departamento de psicoterapia infantil e adolescente da AJB – Renata Whitaker Horschutz* et al.1
Sinopse: Este estudo traz uma compreensão simbólico-prática do uso do Lego dentro da abordagem analítica junguiana. As associações foram feitas por meio de discussões teóricas e exemplos clínicos. Neste artigo, o Lego é apresentado como recurso de expressão, concretização e elaboração de imagens interiores.
Palavras-chave: Lego, recurso terapêutico, compreensão analítica junguiana.
Espiritualidade e psicologia analítica no cenário atual
Departamento de psicologia analítica e espiritualidade da AJB – Anahy Fagundes Dias Fonseca* et al.1
Sinopse: Este artigo propõe um diálogo entre a concepção de religiosidade/ espiritualidade apresentada por Jung e os novos cenários científicos sobre o tema. Pesquisas científicas revelam como a religiosidade pode influenciar na qualidade de vida das pessoas, no bem-estar, conforto, força, propósito, sentimento de segurança e pertencimento, além de concorrer para uma evolução bem mais favorável no trato de problemas de saúde física e mental. Jung mostra que o sentimento religioso constitui função natural da psique, deixando para trás a ideia de associar a religiosidade a algo primitivo, regressivo, de sublimação do sexo ou fuga. Tendo em vista que a neurose é um estado fragmentário da consciência humana, e tendo em vista que o ego está a serviço do Self, instância maior da psique, este artigo ressalta a necessidade de uma psicologia baseada em uma atitude religiosa, vivenciada pelos pacientes nos atos cotidianos – na vida e nos consultórios – repletos de emoções e significados, de numinosidade e do mysterium tremendum et fascinans. Torna-se urgente observar que as experiências de conteúdo numinoso provindas do inconsciente sacralizam a vida e nos ajudam na promoção e no processo de individuação. E que a realização da mensagem encorajadora do roteiro de Deus, inscrita em nossa alma, cura nossa unilateralidade, facilitando o encontro da totalidade tão desejada.
Palavras-chave:atitude religiosa, pesquisas científicas, saúde física e mental, individuação, Self.
Revendo a experiência da relação psique-corpo: o corpo simbólico
Departamento de psique, corpo e psicologia analítica da AJB – Elisabeth Bauch Zimmermann* Karam Valdo** Paulo José Baeta Pereira***
Sinopse: O movimento corporal tem um significado profundo e revelador da realidade somática interna, seja em sua realidade espacial, como projeção da imagem corporal, seja em sua expressão dinâmico-afetiva na ação, e nos dois casos influencia decisivamente a experiência dos relacionamentos. A oposição dos estados psíquicos está configurada em cada pessoa de um modo diferente. O presente trabalho tem como objetivo estruturar esse pensamento e demonstrar como atividades de improvisação propostas tocaram, de forma espontânea, em aspectos teóricos relacionados à questão psique-corpo. A metodologia utilizou relatos de experiência dos participantes, com narrativa de vivências individuais ocorridas durante os encontros do Departamento de psique-corpo da AJB. Nota-se que a integração se dá na vivência simbólica unificadora durante a emergência das imagens. O conteúdo dessas imagens, uma vez integrado à consciência, amplia o conhecimento de si mesmo e da natureza do caminho de integração e individuação.
Palavras-chave: psique e corpo, dança, psicologia analítica.
Complexo cultural, consciência e alma brasileira
Departamento de psicologia analítica e alma brasileira da AJB – Humbertho Oliveira*
Sinopse: Para contribuir com a questão da transformação, tomo, neste contexto, o conceito junguiano de inconsciente cultural, pelo fato de referir-se a dimensões entre o consciente e o inconsciente, o interior e o exterior, o indivíduo e a cultura. E incluo também a noção de complexo cultural, desenvolvida a partir do conceito de inconsciente cultural, apresentada por Thomas Singer e Catherine Kaplinsky como os eventos psíquicos individuais profundamente relacionados a experiências históricas enraizadas na psique coletiva do grupo de pertinência desses indivíduos. Estudo, fundamentado nestas premissas, os complexos culturais brasileiros, citando Leonardo Boff, apontando para o caminho da consciência como o caminho de “cura” em relação aos descompassos relacionados aos complexos culturais. O ambiente da alma brasileira aparece aqui por fi m como um convite ao exercício de mudanças, apresentando-o numa atmosfera sem pressa, sem conclusões e definições, relacionado à artesanalidade da cultura popular brasileira e transitando através das singelezas da mitologia.
Palavras-chave: inconsciente cultural, complexo cultural, consciência, alma brasileira.
Mudanças nas relações afetivas atuais e a importância da individuação relacionada1
Departamento de psicologia analítica e família da AJB – Paula Pantoja Boechat*
Sinopse:O presente trabalho traz paralelos entre a terapia familiar sistêmica e a psicologia junguiana. Aborda as mudanças nas relações afetivas de casamento e de família na atualidade, ilustrando com um recorte clínico a ideia de busca da individuação relacionada (Simon, 1984) em um casal homossexual. Propõe uma técnica de Sandplay (Dora Kalff,1980) adaptada para ser utilizada com casal e família.
Palavras-chave: terapia familiar, escultura familiar, sandplay, individuação relacionada, duplo-vínculo recíproco.
Imaginação ativa: o fator eficaz na prática da psicoterapia
Departamento de psicologia analítica e imaginação ativa da AJB – Sonia Lyra*
Sinopse: É compreensível o nosso desejo de clareza inequívoca, diz Jung, mas não podemos esquecer que as coisas anímicas são processos vivenciais, isto é, transformações, as quais nunca devem ser designadas de forma unívoca se não quisermos transformar o que se move, vivo, em algo estático. Entre as assim chamadas coisas anímicas, estão especialmente as fantasias espontâneas, sobre as quais escreve Jung em carta a Herbert Read: quando a fantasia não é forçada, violada e subjugada por uma ideia bastarda, intelectualmente preconcebida, então é um produto legítimo e autêntico da mente inconsciente e, assim, me traz informações não adulteradas sobre tudo aquilo que transcende a mente consciente. No entanto, é vital discernir entre ego e não ego, pois é desse princípio que resultará uma liberação da energia e uma renovação da vida. Tratar-se-á aqui da imaginação ativa como um conhecimento que depende da experiência individual do terapeuta, pois este conduzirá o seu paciente até ali onde o seu próprio inconsciente foi assimilado à sua consciência. Só assim ele poderá tornar-se o seu próprio método, sendo a sua personalidade o fator eficaz.
Palavras-chave: imaginação ativa, psicoterapia, sintoma, fator eficaz, sincronicidade.
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