Cadernos Junguianos – I
Cardenos Junguianos
Sumário
Artigos
Utopias, Distopias e o Processo de Individuação em Filosofia e Literatura
Carl Gustav Jung como Fenômeno Histórico-Cultural
O Ritual como Continente Psíquico da Transformação
Tempo e Alma nos Quatro Quartetos de T. S. Eliot
Novas Questões em Psicologia Clínica: o Sujeito Contemporâneo e a Crise da Subjetividade
A Iluminação Junguiana do Cinema
Alquimia: Arte do Tempo
Educar Visando a Individuação
A Fantasia como Função Psíquica: o Substrato da Criatividade
O Futuro da Psicoterapia – Reflexões e Propostas
Entrevista
Depoimento
Uma Breve História da Associação Junguiana do Brasil
Resenhas
Dogville
Dolls
Mongólia
UTOPIAS, DISTOPIAS E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO EM FILOSOFIA E LITERATURA
Sinopse: O presente ensaio trata da tradição arquetípica da sociedade utópica desde Platão e sua obra A República, passando por Thomas More, Aldous Huxley, com Admirável Mundo Novo e chegando até aos diversos elementos da moderna literatura do conto fantástico e da ficção científica. Ainda procura-se refletir sobre as influências da utopia da cidade ideal como fator importante na organização na personalidade do sujeito da modernidade e as influências do mito do andróide na sociedade contemporânea.
CARL GUSTAV JUNG COMO FENÔMENO HISTÓRICO-CULTURAL
Sinopse: Este artigo contrapõe às forças determinantes do século XX — nacionalismo, socialismo, capitalismo, tecnicismo e globalização — a importância da psicanálise, que influenciou toda uma época, e a introdução do relativismo cultural na psicologia, a partir de Jung. Tece ainda uma crítica ao modelo médico de estudo da psique individual, apontando a interdependência entre o indivíduo, a cultura e a história, e recrimina, de forma insidiosa, a atitude dos neo-junguianos da escola evolucionista, muito mais orientada na direção da busca de melhoria, eficiência e brevidade, do que rumo a um lento processo de arqueologia da profundidade, que privilegie a “psico-diversidade”, resgate valores morais e situe o homem em meio à complexidade histórico-cultural na qual está imerso.
O RITUAL COMO CONTINENTE PSÍQUICO DA TRANSFORMAÇÃO
Sinopse: O desenrolar da vida humana se articula em fases definidas que exigem comportamentos adequados. A passagem de uma fase de vida para outra traz modificações e conseqüentes crises, sejam elas grandes ou pequenas. Durante esses acontecimentos muitas sociedades celebram rituais diferenciados que têm o objetivo de ajudar o indivíduo a superar as crises. As atuações ritualísticas, tanto entre os povos primitivos como para o homem contemporâneo, tem um propósito religioso, baseando se em temas mitológicos e arquetípicos; expressam suas mensagens simbolicamente e envolvem totalmente o indivíduo. Transmitem uma sensação de significado elevado para este e, ao mesmo tempo, apóiam-se em representações adequadas ao espírito dos tempos. Seja qual for o contexto da vivência ritualística, vida moderna ou vida primitiva, a transformação alcançada pode significar uma ampliação de consciência, uma mudança estrutural da personalidade ou o ingresso num novo status de vida na comunidade, promovendo o amadurecimento do indivíduo.
TEMPO E ALMA NOS QUATRO QUARTETOS DE T. S. ELIOT
Sinopse: O artigo propõe uma breve apresentação da poesia de T. S. Eliot através do exame de seu último e mais importante poema longo, Quatro Quartetos. O poema de Eliot, como excepcional obra de arte que é, abre-se, em sua complexidade multifacetada, a várias leituras, desde as de cunho mais propriamente religioso ou metafísico, até as que o abordam do ponto de vista mais estrutural. Aquelas que dão ênfase e que nele vêm uma exploração do mito do significado e, portanto, da experiência do Self, foram sempre as preferidas pelos junguianos. O artigo dá preferência à questão do tempo, principalmente por concordar com a maioria dos críticos literários mais importantes da obra de Eliot quando caracterizam esse seu último poema — quase uma espécie de testamento artístico e humano — como uma grande meditação sobre o tempo.
NOVAS QUESTÕES EM PSICOLOGIA CLÍNICA: O SUJEITO CONTEMPORÂNEO E A CRISE DA SUBJETIVIDADE
Sinopse: Este artigo pretende contextualizar algumas questões da clínica psicológica, realizando uma reflexão sobre o universo junguiano em confronto com os aspectos que envolvem a subjetividade pós-moderna e com a própria idéia de subjetividade. Para isso, importa reconhecer os vetores epistemológicos na formação dos conceitos psicológicos junguianos e das possíveis colaborações para uma clínica que recupere a idéia de alma em todas as suas implicações. O artigo leva em consideração a necessidade do rompimento paradigmático do modelo atual em favor de uma dimensão multiexistencial. Com isso, pretende-se também estabelecer um sistema terapêutico baseado na idéia de imaginação criadora, apresentada dentro de um espaço existencial baseado na capacidade de conexão. O resultado é uma proposta terapêutica baseada na metáfora de rede a na força expressiva inerente da psique.
A ILUMINAÇÃO JUNGUIANA DO CINEMA
Sinopse: O cinema, visto como um impulso de explorar e realizar a psique, é o tema deste artigo. Por meio de seus roteiros reproduzem-se a dinâmica e os conflitos que se agitam por trás da superfície das personagens, visualizam-se lugares específicos para onde viajam os protagonistas, revelam-se pontos de vista conscientes justapostos a visualizações e potencialidades inconscientes, compõem-se diálogos de fantasia ou esforços para controlá-las ou superá-las. A partir desta arte, torna-se visível aquilo que anteriormente tinha sido obscuro para a representação consciente: o movimento de indivíduos em suas vidas através do tempo. Essas constatações, entremeadas por conceitos da psicologia analítica, e ilustradas por meio de exemplos de filmes conhecidos de todos mostram, ainda, o potencial do cinema como um meio para a criação de consciência.
ALQUIMIA: ARTE DO TEMPO
Sinopse: Este artigo observa o Tempo sob diversas perspectivas no que tange às suas relações com a alquimia: os estudos de Jung sobre alquimia surgem em um tempo maduro de sua obra, bem como fornecem ao pensamento de Jung um lugar no tempo histórico. O tempo enquanto arquétipo é visto também na alquimia em suas formas lineares e cíclicas: a passagem do tempo cronológico das operações alquímicas e o tempo urobórico na eternidade da pedra alquímica, já presente na matéria-prima. Uma analogia para as relações entre o tempo da consciência e a atemporalidade do inconsciente, uma coniunctio ego e Self. Através de pesquisas teóricas o autor ressalta os alquimistas enquanto artífices do tempo, recriando, acelerando, alterando em laboratório aquilo que na natureza demoraria muito mais tempo para nascer. Sempre traçando um paralelo entre a alquimia e o processo psicoterápico.
EDUCAR VISANDO A INDIVIDUAÇÃO
Sinopse: Este artigo traça um paralelo entre o Si-mesmo como educador arquetípico da consciência e a forma como Deus educa o homem no mito judaico-cristão. A tônica recai sobre a observação desse modelo – uma relação dinâmica e transformadora entre Deus e homem – e sua incidência nas várias fases de criação, alimentação e condução do ego rumo à individuação, desde a primeira infância. Conclui, ao final, que assim como no mito “Deus se faz homem” e ensina a amar, na segunda metade da vida o educador passa a ser reconhecido como uma instância interior, que convida a fazer escolhas pessoais entre bem e mal, certo e errado, com base no amor que reúne o Eu, o Outro e a missão designada pelo Si-mesmo.
A FANTASIA COMO FUNÇÃO PSÍQUICA O SUBSTRATO DA CRIATIVIDADE
Sinopse: Debates sobre a evolução do conceito de fantasia como função criativa, terapêutica e prospectiva na personalidade. Sobre a evolução dos conceitos de mito e realidade na obra de Jung, no Fedro de Platão e no conto, Rashomon, de Akutagawa, que serviu de tema para um filme de Kurosawa. Sobre a destrutividade de uma busca de “normalidade” a qualquer preço, inibindo o processo criativo e a capacidade imaginativa, criando novos “leitos de Procusto”. Sobre o papel da atividade imaginativa como substrato da transformação. Sobre a função do humor no processo criativo. Sobre o método hermenêutico de interpretação dos símbolos na escola junguiana.. Sobre a importância das fantasias como um estado mediador entre o Umwelt e o Innenwlt, definido por Jung como, esse in anima. E, sobre o conceito de, terceira margem do rio, de Guimarães Rosa, relacionado com um estado mediador entre o consciente e inconsciente, que foi definido por Corbin de, mundus imaginalis.
O FUTURO DA PSICOTERAPIA: REFLEXÕES E PROPOSTAS
Sinopse: O texto tece considerações sobre a psicoterapia no mundo atual, onde a exigência é de uma aceleração maior do tempo. Em conseqüência disso, estaríamos nós perdendo o respeito pelo tempo único de cada indivíduo? Estaríamos nos exigindo uma massificação dos comportamentos, e também uma falta de ética? São discutidas as técnicas de mobilização de símbolos, que podem acelerar o processo terapêutico e mostrar ao paciente seu compromisso com a doença ou a saúde. É trazido o conceito de individuação relacionada, e é resgatada a importância da psicoterapia para manter o espírito de sensibilidade humana no mundo atual